Um cada vez maior número de pessoas tem vindo a recorrer à prática de

exercício como forma de procurar um bem-estar psicológico, em face das

novas exigências e pressões colocadas pela sociedade moderna. Este

fenómeno pode ser observado quase diariamente junto de espaços verdes,

onde os praticantes aproveitam o pouco tempo livre para “descarregar o stress”

na corrida, marcha, bicicleta ou Karaté.

E se o ritmo acelerado dos tempos modernos influencia os adultos, não menos

afecta o dia-a-dia das nossas crianças e jovens. De facto, divididas entre a

escola, amigos e família, o desporto constitui-se como uma dimensão

importante do seu crescimento.

Como é sabido, no decurso do desenvolvimento humano, a qualidade das

relações estabelecidas com quem está mais próximo durante os primeiros anos

de vida, marca as raízes do relacionamento connosco próprios e com os

outros. Hoje sabemos que as insuficiências afectivas, construídas na infância e

adolescência, conduzem a uma personalidade vulnerável e frágil, pois ao

interiorizar modelos de relação distorcidos, a criança e o jovem vão repeti-los

em padrões de personalidade e comportamento futuros. Daqui se conclui que o

desporto, como elemento do desenvolvimento, se constitui como um

instrumento salutar na moldagem da personalidade de futuros adultos.

Através da prática desportiva, o jovem tem a oportunidade de aprender a

cooperar e a competir saudavelmente, incrementando a sua capacidade de

respeitar os outros e adquirir um comportamento moral e ético. Mediante a

aprendizagem de regras e normas de conduta, favorece-se a aquisição de

competências de relacionamento com pares (colegas e amigos) e adultos (pais,

dirigentes, professores e treinadores). Para além dos benefícios ao nível do

desenvolvimento social, numa perspectiva pessoal, a criança e o jovem

aprendem coisas novas, experimentam uma harmonia entre corpo e emoção,

contribuindo para uma auto-imagem e auto-estima positivas.

A convergência destes factores terá um efeito bastante positivo em todas as

dimensões desenvolvimentais, nomeadamente, na estabilidade emocional e

funcionamento intelectual, contribuindo para um bom desempenho social,

familiar e escolar. Atingindo o bem-estar físico e psicológico, a criança e o

jovem reunirão as bases que lhes permitirão enfrentar com sucesso as mais

diversas tarefas quotidianas e diminuindo a sua propensão para a adopção de

comportamentos desajustados.

No entanto, de acordo com Olímpio Coelho 1988

não é o desporto, por si

que determina o carácter positivo ou negativo da sua prática, mas sim a

natureza das experiências por ele proporcionadas.

Deste modo, a prática

desportiva é uma faca de dois gumes: o desporto não é panaceia, não resolve

todos os problemas e pode até criar alguns. Esta fronteira delicada, deverá ser

gerida pela orientação e intervenção dos agentes desportivos que, em

colaboração estreita com os pais, tentarão criar o verdadeiro ESPÍRITO

DESPORTIVO, construindo atletas, pessoas e cidadãos com vivências físicas e

psicológicas saudáveis.

Cláudia Saavedra

Psicóloga